quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Problemas


A primeira nobre verdade do budismo diz: “Sofrimento existe”, e por mais duro que seja admitir isso, é verdade. O sofrimento existe e o experimentamos desde o momento em que saímos da barriga materna. Pensa que não? Na vida dentro do útero o bebê estava quentinho, aconchegado, protegido; no momento do nascimento ele passa pela dor, ofusca-se com a luz, sente o ar frio, é aspirado, remexido, sacudido... e chora pela primeira vez.
Bem daí pra frente cada um tem um caminho a seguir, uns com mais sofrimentos, outros com menos, mas nunca sem a ausência deste.
O que é então o sofrimento? Temos uma outra palavra similar: problemas.
Todo problema é um sofrimento e todo sofrimento é um problema. Pode ser pequeno, médio ou grande, não importa o tamanho, só queremos nos livrar dele logo, pois um problema nos tira do nosso conforto e nos faz trabalhar a mente para encontrarmos uma solução o mais rápido possível. Queremos nos livrar do desconforto. Mas muitas vezes isso não é possível, e aqui está a primeira lição do sofrimento: “não podemos tudo”, por mais que queiramos não somos onipotentes, não temos tanto poder quanto gostaríamos, e muitas vezes quando estamos “nos achando”, aparece um problema para nos colocarmos em nosso lugar e nos ensinar a preciosa sabedoria da humildade e da paciência. Humildade de encararmos os nossos limites e a paciência de esperar o problema ser resolvido no tempo certo, e não no tempo da nossa pressa.
Para aprender a segunda lição, é preciso observar “o porquê do problema”. Alguns problemas aparecem para que mudemos nossa vida, para que aprendamos algo e ele é um professor implacável que cobra a lição até que o aluno aprenda de verdade. Para isso, o problema persiste, continua, até que a pessoa tome outro rumo na vida. Quando isso acontece o sofrimento some, acaba, pois ele já desempenhou o papel dele, conseguiu seu intuito.
A terceira lição é: “qual o tamanho real do seu problema?”. Como diz Carl Gustav Jung: “tem pessoas que transformam formigas em elefantes”. Será que você não é uma dessas pessoas? Responda sinceramente.
Para aprender a dimensionar o problema, ou seja, para aprender o tamanho real dele é só se perguntar: Qual o peso que este problema terá em minha vida daqui a 3 anos? É de espantar que muitos problemas terminem com a constatação de que na verdade não se estava lidando com um grande problema, ou com algo que merecesse o seu tempo e a sua preocupação. Muitas coisas que achamos ser grandes problemas são pequenas coisas que se resolvem sozinhas.
Vamos para a quarta lição: “criar o espaço vazio”. Depois que você já fez tudo o que podia fazer para resolver o problema, aí é o momento de soltar, deixar que a coisa se resolva. Nossa mente precisa de períodos de vácuo, de descanso para se restabelecer e trabalhar melhor. Você já deve ter percebido que as melhores idéias surgem quando estamos distraídos, relaxados, sem pensar em nada. Aí dá o estalo e você se pergunta “como não pensei nisso antes?”. Não pensou antes porque não tinha espaço para pensar. Forçar a solução de um problema pensando sobre ele sem parar não o resolve, muitas vezes complica mais.
E por fim, a última lição: vamos pensar naquele ditado “Tudo está certo do jeito que está”. Ele pode até parecer uma afronta no momento que você está preocupado até o pescoço, mas quantas vezes a vida já mostrou que situações difíceis eram exatamente o que precisaria acontecer? Por exemplo, você pode ser despedido, se desesperar com isso e logo em seguida aparecer um emprego bem melhor, onde você será muito mais feliz e com maiores chances de crescimento, Ou, você levou um fora do namorado, sofreu horrores e depois percebeu o quanto vocês eram diferentes e nunca dariam realmente certo juntos. Muitos problemas são as portas que a vida nos abre para que, passando por elas, possamos viver a nossa vida mais plenamente. Muitas vezes achamos que estamos felizes, mas a verdadeira felicidade está escondida atrás destas portas.
Maria de Fátima Hiss Olivares - Psicologia Clínica

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