SÓ SE FOR DO MEU
JEITO
Quando se trata de
problemas de relacionamento, muitas fantasias povoam a mente.
Uma das piores (se
não, a pior) é a gente achar que pode mudar o outro:
· _“Ah, com o tempo
eu consigo que ele (ela) mude”.
· _“Depois do
casamento ele(a) muda.”
A realidade é uma
só: ninguém muda ninguém.
Ninguém muda quando
o outro quer ou impõe. É bobagem achar que alguém tem este poder. As pessoas
mudam quando amadurecem e se tornam prontas para isso, e cada um tem seu
próprio tempo de evolução.
O fruto verde de uma arvore não vai amadurecer
mais rápido só porque você quer. Isto significa que todo amadurecimento demanda
tempo.
Forçar uma mudança é muita pretensão, e
mergulhar nesta ilusão gera uma falsa sensação de força, que gera a fantasia de
querer solucionar a vida do outro e achar que só você sabe o que é bom para ele:
· _“Se ele fosse do
jeito que eu quero, daria certo” ou
· _“Se ela fizesse do
jeito que eu falo a vida dela seria maravilhosa”.
Já é extremamente
difícil tomar conta da própria vida e as pessoas ainda acham que podem tomar
conta da vida do outro. Ninguém tem esse poder.
Você toma conta da sua vida, ou fica tentando concertar
a dos outros? Você sabe o que é tomar conta da sua vida?
É
assumir a responsabilidade de viver plenamente, de maneira satisfatória e de
acordo com seus princípios. É se esforçar para ter saúde mental, física e
emocional. É cuidar para que todas as áreas de sua vida funcionem de maneira
adequada. É não responsabilizar ninguém pela sua felicidade ou infelicidade. É
assumir total controle sobre a sua vida. Dá trabalho sermos nós mesmos de forma
autêntica, mas se não o fizermos,
teremos que conviver com um vazio imenso.
Infelizmente,
muitos, sabendo deste trabalhão todo, optam por, preguiçosamente, não querer
viver a própria vida, e assim deixam de cuidar de si para cuidar exclusivamente
do outro.
E
este outro pode ser o(a) companheiro(a), os pais, os filhos, amigos, vizinhos,
gato, cachorro, etc.
Entenda bem, existe a preocupação
saudável que todos temos com aqueles que amamos. Estou falando aqui da
preocupação excessiva, do exagero, da mania de achar que pode corrigir e
concertar o outro.
Você deve conhecer aquelas pessoas
que acham que tudo está errado com a vida de alguém e se empenham ao máximo em
“melhorá-lo”.
Vamos
pegar como exemplo uma mãe cujo filho que não está tão bem na escola quanto ela
gostaria. Então ela azucrina o coitado o dia todo. Conversa com professores,
coloca-o em aulas particulares, leva ao psicólogo, manda benzer,... Faz tudo,
menos o que é importante: aceitar este filho do jeito que ele é, e ajudá-lo
somente o necessário.
Ah,
mas isso não pode, porque assim ninguém veria como ela é a heroína sofredora e
esforçada. Ou pior, esta mãe não suporta a idéia de ter um filho que não é o
primeiro da classe, e é só uma criança comum e normal como todas as outras.
Na
vida de casal, é fácil achar esta atitude também:
· É o marido que bebe
e a esposa que cuida.
· É a esposa nervosa
que o marido precisa mimar.
· É o companheiro(a)
barraqueiro(a) que se mete em encrencas e o outro tem que consertar.
Estando
um casal juntos, é muito válida a troca de informações e conselhos. Você pode,
e deve, dar a sua opinião sobre as atitudes do outro. Afinal, se vocês estão
juntos, um deve crescer com o outro. Mas dar opinião e orientar é completamente
diferente de controlar. Devemos sempre respeitar o caminho que o outro escolher
para seguir. Podemos discordar, mas a vida é dele e não sua. Você pode escolher
não ficar com a pessoa caso discorde demais das atitudes, mas perceba que é
sempre uma decisão individual.
Vale
observar que, ajudar não é obrigar o outro a aceitar somente a sua idéia como
se ela fosse a única verdade existente. Sempre por trás deste tipo de ajuda,
está uma forte tentativa de controle e manipulação.
O
CONTROLE:
Todo
controle e manipulação da vida do outro gera sensação de poder. A pessoa
sente-se forte com este papel, e não percebe o quanto este poder é ilusório.
Existem vários disfarces para o
controle:
· Achar que ninguém
faz nada direito, a não ser que ela controle o que deve ser feito.
· Querer ter razão em
tudo, sempre.
· Dizer que gosta de
se sentir útil e ajudar o próximo. Mas
no fundo, o que esta pessoa quer de verdade é se sentir querido e importante porque
tem alguém dependendo dela.
· Querer sempre saber
de tudo o que se passa com as pessoas ao seu redor. Não por uma curiosidade
sadia, mas para poder ter domínio do ambiente.
Geralmente
a ajuda não é oferecida, é imposta. Muito diferente da caridade, onde a ajuda é
dada sem intenções secundárias.
Achar que pode corrigir, direcionar, ensinar e
controlar é orgulho puro e pasmem, esconde um forte sentimento de inferioridade,
que faz com que a pessoa perca as melhores lições da vida.
Aprendemos muito com o outro, às vezes muito mais do
que nós podemos ensiná-lo. Crescemos com a convivência, com as relações, com as
trocas de experiências. O outro é o nosso mestre pois precisamos dele para
crescer e mudar.
Precisamos enxergar a verdade do outro e o outro de
verdade. Ás vezes ele está fazendo o seu melhor. Aceitar-se e aceitar o outro,
do jeitinho que ele é, é um exercício de humildade. Se você o fizer
provavelmente se surpreenderá como seu relacionamento vai melhorar.
Não adianta forçar alguém a ser o que ele não é só
porque você acha que assim é o certo. Por amor, a pessoa pode até tentar, mas
certamente irá contra a sua natureza e acabará em sofrimentos e tristeza. O
relacionamento se tornará cada vez mais infeliz.
Todo ser vivo precisa da liberdade de simplesmente ser
o que é.
Com um parceiro tentando mudar o seu jeito de ser, faz
com que a relação torne-se insuportável, pois há um grande conflito entre o que
você é de verdade, e o que o outro quer que você seja.
Experimente parar. Não fazer nada, só ser; e assim,
permitir que o outro seja só ele mesmo. Será muitíssimo mais prazeroso e mais
simples. Você experimentará um estar junto tranqüilo e mais verdadeiro.
Só existe uma maneira de mudar o outro – é mudando a si mesmo.
No convívio o outro pode mudar a partir da sua mudança.
Mudando a si mesmo, o outro tem que se adaptar e pode
empregar esforços extras para também amadurecer. Lembremos que a melhor maneira
de ensinar é pelo exemplo.
Maria de Fatima Hiss Olivares - Psicologa Clinica