terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A NOBRE ARTE DO DEDO PODRE



            Escolher errado e continuar errando, este é o dedo podre.
Todos conhecemos alguém assim. Acabou de sair de um relacionamento ruim e já está, de novo, com outra pessoa errada, muitas vezes pior que o primeiro.

“Susana, 30 anos, sai todo final de semana com as amigas. Barzinho, shows e baladas são os programas preferidos. Sempre arruma algum paquera, pois é bem vistosa. Mas reclama que tem muito azar com homens. E não é de agora. Começou cedo, desde o primeiro namorado que era drogado. Já namorou um que não queria trabalhar de jeito nenhum, outro que sumia semanas sem dar notícias e depois ela descobria que estava farreando com os amigos. Um outro, este mais velho, que ainda era apaixonado pela ex mulher e só falava dela. Pela sua lista também passaram alcoólatras, agressivos, infantilizados e quem não queria nada com nada. Mas ela não desiste. Acha que se continuar procurando, em algum momento aparecerá ‘alguém bom’”.

O “dedo podre” aponta, mira e escolhe sempre parceiros-problema:
“Eu só atraio encrencas”,
“Porque para mim só aparece gente problemática?”,
“Pareço curva de rio, só pára entulho”,
“O pior sempre sobra para mim”.
          E tantas outras  que no fundo querem dizer a mesma coisa:
“ Atraí novamente a pessoa errada”.
Então quando chega neste ponto, já passou da hora de refletir sobre as escolhas afetivas.
      Primeiro, fica claro que existe um padrão se repetindo: a atração e escolha por pessoas problemáticas.
Além disso, o que todas estas pessoas tem em comum?
Descrevendo cada uma delas, com riqueza de detalhes, vai-se perceber que no fundo todas se parecem.
Então, porque procurar uma pessoa com estes traços de caráter?
O que escolhemos está diretamente ligado ao que pensamos de nós mesmos.
A pessoa te trata da mesma maneira que você faz consigo mesmo.
 Se você acha que merece ser feliz e sabe do seu potencial, você atrairá e se sentirá atraído por uma pessoa que te valoriza, que te quer bem.
Se você acha que não merece o amor, não se dá valor, pensa que só se esforçando muito para agradar é que as pessoas gostarão de você. Provavelmente se sentirá atraído e atrairá pessoas que não te dão valor e que você tenha que se esforçar muito para manter a relação.
Dependendo do que você acredita que merece é o que vai ter.
Quanto mais nos conhecemos e demonstramos quem somos, mais atraímos as pessoas certas para o nosso convívio. Tanto para o convívio amoroso, quanto social e de trabalho.
 Além de autoconhecimento, devemos ter bem clara em nossa mente a noção de merecimento.
Parece fácil, mas não é.
A grande maioria das pessoas “acha” que merecem tudo de bom, mas esta ideia acaba sendo vaga, superficial. Gostar de verdade de si mesmo é uma construção gradativa e leva tempo. Basta ver quantas pessoas infelizes existem no mundo.
Outro ponto que pode levar ao fenômeno do “dedo podre” é a carência. Se relacionar com pessoas-problema podem ser tentativas de lidar com esta falta de afeto. É uma triste tentativa de reunir migalhas de carinho na esperança de aplacar uma grande fome.
A carência é uma péssima conselheira.
Quando ela aparece, todo sapo horroroso é confundido uma princesa linda ou um galã de cinema. Depende do tanto que a pessoa bebeu, ou às vezes nem foi preciso. É a pressa de achar alguém logo.
“De tanto procurar e não encontrar nada, qualquer coisa serve”. Note o quanto esta pessoa perdeu o valor de si mesma.
Afinal, qualquer coisa só serve para quem é qualquer um.
Para meus clientes com este perfil eu proponho este exercício no consultório, e sempre tenho resultados muito positivos. Se é você o dono do “dedo podre”, proponho que tente fazê-lo. A proposta é ajudá-lo a entender que merece o melhor da vida:
Pegue uma foto sua ainda bebê. Calmamente, observe a foto por um tempo e pense sobre esta criança.
O que ela merece? Qual criança não merece ser feliz?
O que será que seus pais desejaram para esta criança quando ela nasceu?
O que você desejaria para esta criança se fosse pai ou mãe dela?
Provavelmente, gostaria que ela fosse muito feliz, acarinhada, amada, próspera e realizada, não é?
Analise suas conclusões devagar, dispondo do tempo que precisar. Você precisa deste tempo entender que esta criança ainda é você, e que todo o mal que é feito á você, é feito á essa criança.
 Talvez sua vida precise de algumas mudanças benéficas para que você se transforme em outro tipo de imã atraindo relacionamentos mais positivos.
Deseje que esta criança tenha tudo de bom.
Leve esta foto na carteira, e quando seu “dedo podre” apontar para alguém, pegue a foto e pergunte á si mesmo se você deixaria esta pessoa tomar conta da sua criança?
Relacionar-se é entrar na vida do outro e deixá-lo entrar na sua. Não pode ser qualquer pessoa. Deve ser uma pessoa especial, da mesma maneira como você deve trabalhar a si mesmo para conseguir se ver também especial.
Aprofundando um pouco mais nesta auto-análise, seria interessante perguntar-se: 
Quanto você quer um relacionamento de verdade?
 Você está preparado para assumir uma troca de amor?
 Está pronto para ter a responsabilidade de amar e se sentir amado?
 Ou o fato de sempre escolher pessoas erradas é uma maneira de sabotar a possibilidade de um relacionamento bom e que dê certo
Pense nisso com carinho.

Escrito por: Maria de Fátima Hiss Olivares - Psicóloga 
             


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Brigas de casal




Sabe o que mais dói em uma briga? É o fato de sabermos que isso é normal e que mais cedo ou mais tarde, vai acontecer de novo.
Tenho medo de um casal que não briga.
É através destes reveses que vamos nos moldando, mudando, tomando uma forma mais adequada. Como uma forja. Somos a espada crua, que o ferreiro vai encher de dores para adquirirmos o formato adequado. Somos crus á principio. Somos crianças. Muitas vezes mimadas, querendo que o mundo seja do jeito que achamos que ele deve ser. E as brigas nos obriga a ver o outro, a tentar entender este ser diferente que está diante de nós e que agora reparte o mesmo quarto. As brigas também nos obriga a sair da nossa posição, muitas vezes muito confortável, e nos convida a pensar que talvez estejamos errados. Putz, será?
Sim, e muitas vezes, estamos mesmo precisando de uns ajustes. Mas é o olho do outro quem nos indica isso, pois nós mesmos muitas vezes não somos capazes de enxergar. Mimaaaaaaados.
Mas, você pode pensar que sou á favor de barracos e quebra-paus. Não sou não – sou da paz. Já vou esclarecer isso: as brigas são benéficas dependendo da sua profundidade.
Como?
Vamos imaginar um copo de cristal bem bonito. Este é o seu casamento, ou a sua relação amorosa. Pois bem, conforme o tempo vai passando e vocês vão convivendo, atritos vão acontecendo e a superfície deste copo, antes translucida e limpa, vai adquirindo arranhões, rabiscos e ficando opaco. Mas ainda é um copo. São aqueles casamentos fortes e eternos. São aqueles velhinhos que ja estão casados a tanto tempo e trocam olhares de cumplicidade, andam de mãos dadas e que a vida já ensinou tanto, que o amor já ficou manso.
Este casal teve brigas, obvio. Mas foram as brigas edificantes.
A forja que molda uma relação não pode entrar na ofensa, agressões de qualquer tipo,  nem ultrapassar o limite do outro. Este tipo de brigas deixam marcas profundas que não rabiscam o copo, eles criam pequenas rachaduras, no começo são quase imperceptíveis. Mas elas vão aumentando em numero e profundidade, porque o casal não sabe brigar e vai repetir isso cada vez com mais e mais intensidade.  Ao invés de crescer, se machucam.
Até que um dia, este copo se parte, em mil pedacinhos.
Quem está de fora fala: mas como deixou de gostar assim, de uma hora pra outra?
Não. Foram anos de pequenas rachaduras, que foi acabando com o amor.
Não dá pra colar caquinhos. Como você faz para uma pessoa voltar a te amar, depois de tanto tempo destruindo o que ela sentia por você?
Ok, quer tentar? Quer colar os caquinhos?
O copo sempre vai ser quebrado, e muito frágil. E as rachaduras estarão sempre lá, para lembra-los de cada momento que as provocou, e a qualquer momento pode desmoronar tudo de novo.
Muito trabalho. É isso o que espera quem não fez a coisa certa desde o começo.
Um relacionamento requer muito cuidado. Todo amor é frágil. Não se iluda achando que ele é á prova de balas, porque não é não.
Todo cuidado é pouco.

Uma relação demanda tempo, atenção e muito zelo. Deve ser tratado como o mais frágil dos bibelôs. E este paradoxo é que torna a coisa toda linda: é nesta fragilidade que nos fortalecemos como pessoas, e crescemos junto com o outro.
Vamos tomar juízo e brigar do jeito certo?

Escrito por: Maria de Fátima Hiss Olivares - Psicóloga Clínica