sábado, 17 de novembro de 2012

Você não tem comparação



Em essência, o ser humano é feliz. Por mais que as pancadas da vida façam com que você discorde desta afirmação, ela é verdadeira. Nossa essência é potencialmente feliz. Nascemos com esta possibilidade. Mas, onde a perdemos? Quando nos desviamos deste caminho bom?
Toda criança é linda. Tem alegria e desprendimento para viver na sua fantasia. Ela pode ser uma princesa, um super-herói, o que quiser. Na sua imaginação ela pode tudo, não há limites. Com isso percebe que tudo está certo no seu mundo e ela está perfeitamente encaixada nele, sente-se como parte do todo, integrada. Não se vê de forma diferente. É simplesmente Feliz.
As pessoas são felizes até o momento em que começam a se enxergar pelos olhos dos outros. O rompimento acontece no exato momento onde ocorre a comparação. Vamos entender melhor:
Quando se inicia a vida social, esse serzinho frágil, inocente, molinho, vai enfrentar o que será, daqui pra frente, o seu maior inimigo: OS OLHOS DOS OUTROS.
Conforme a criança cresce, ela se dá conta que é inserida no meio social, e este vai se expandindo dia-a-dia: são os primos, amigos do condomínio, vizinhança, praça, play ground e escolinha. Aumentando o contato com outras pessoas, ela vai começar a perceber-se no mundo. Como ela reage às pessoas e como as pessoas reagem a ela. Muita coisa importante para a vida do ser humano depende de como ele interage com o meio.
Por exemplo, um menininho em meio às suas brincadeiras percebe os amiguinhos rirem das suas orelhas. A princípio não vai entender porque as crianças estão rindo. “Qual é o problema deles?” Nunca nem havia prestado atenção que as suas orelhas existiam. Agora os coleguinhas riem dizendo que elas são de “abano”. “O que é orelhas de abano, mãe?” E a mãe gela, percebendo que o filho entrou para o mundo e sente pena, medo e aninha o filho nos braços. “Não é nada não. Você é lindo”.
Mas de tanto falarem, ele começa a prestar atenção nas orelhas de todas as cabeças que se aproximam dele. Está feito. Passou a comparar. E pela primeira vez sentiu-se feio e não fazendo parte do mundo. Talvez ele fosse o “errado”, e as outras crianças com “orelhas normais” fossem as certas. A sua espontaneidade foi se perdendo, diminuiu a vontade de brincar e de ir pra escola. Agora o mundo girava em torno de suas orelhas. Como a felicidade, que ele já havia conhecido, havia ido embora, torna-se desejoso de que ela voltasse. Se houvesse um jeito de arrancar fora o problema, ou seja, as orelhas? Talvez assim ele fosse feliz de novo.
Percebe então, que mesmo arrancando fora as orelhas, sempre haverá outras formas de comparação: Zezinho tinha mais brinquedos, Arturzinho era mais popular, o tênis do Toninho era melhor, o Felipe fazia mais gols.
Tudo o que antes não era percebido, hoje é visto com lentes de aumento.
Conforme a pessoa cresce, começa a criar uma casca protetora. Não pense que esse tormento acaba conforme crescemos. Não! Uma vez aprendido, nunca mais isso pára. Mas calma, nem tudo está perdido:
Tudo na vida tem dois lados, e o lado bom desta história é que ela acaba com a onipotência e faz com que a criança perceba que o mundo é feito de muita gente, com gostos e opiniões diferentes. Muitas vezes a comparação nos faz crescer. Como? Para tentar nos superar e melhorar devemos nos comparar a nós mesmos – este é o tipo de comparação que nos faz bem. Tentar ser hoje melhor do que fomos ontem. E quando “caímos em tentação” e nos comparamos com os outros, precisamos ter clara a noção do limite. Só devemos exercer uma certa comparação mínima e saudável, senão perderemos a noção do que é valoroso para nós. Se nos compararmos sempre, corremos o risco de não saber mais o que é bom e essencial, dando valor ao que é supérfluo e banal. O errado. Afinal, o que é bom para o outro, pode não ser bom para nós.
Sempre se lembre que somos nós quem damos significados às nossas vidas.
Quantas coisas deixamos de conquistar porque nem sequer fizemos uma tentativa para pelo menos testar se a nossa suposta incapacidade é real ou imaginária. Aceitamos que não somos bons e ponto final.
Para haver esta triste conclusão, houve uma voz interna dizendo: você é feio, orelhudo, diferente, incapaz.
São as vozes do nosso passado que se tornam a nossa própria voz no presente e passamos a fazer para nós o que os outros fizeram.
Ah, que felizes aqueles que conseguem uma voz interior que toque música suave e declame poemas de amor. E para ilustrar o nosso tema de hoje, usarei uma historinha que andou circulando na Internet:
“Havia uma corrida de sapos, onde deveriam chegar ao alto de uma imensa torre. Iniciada a corrida, cada um dos participantes dava o melhor de si, mas a torre era muito alta.
A platéia começou a comentar: - Ih, não vão conseguir, é muito difícil”, “É melhor desistirem”.
Os sapos continuavam correndo, mas dois competidores já haviam abandonado a prova.
A multidão continuava: “É impossível, não têm como conseguir”.
Mais alguns paravam. Mas havia um sapo que parecia indiferente a tudo e corria obstinado para o seu destino.
“É melhor desistirem”. “É muito difícil”.
Um por um todos foram desistindo, menos aquele sapinho, que conseguiu com muito esforço chegar ao alto da torre e vencer a corrida. Depois descobriram o segredo do sapo: ele era surdo”.
Para vivermos melhor, deveríamos, desde pequenos, sermos surdos para certos comentários e bons ouvintes para outros. Não podemos mudar o nosso passado, mas podemos mudar o nosso presente e nosso futuro. Não ouvir certas coisas nos fará crescer, pois não colocará a noção de limitação em nossas vidas.
Um atleta olímpico chega àquelas marcas espantosas porque ele tenta primeiro superar a si mesmo. Vencer os seus próprios limites e expandir a sua capacidade. Se o treinador, ao invés de dizer palavras de incentivo, só dissesse palavras de desencorajamento este atleta não conseguiria sair do lugar. Se ele sabe que conseguiu tal vitória hoje, vai se esforçar para ser melhor que ele mesmo amanhã.
Não adianta ele tentar vencer o outro se não tiver superado a si mesmo antes.
Seja surdo. Se dê esse direito. Comece a treinar uma audição seletiva, onde só serão assimiladas as coisas boas. Tudo o que não servir para o seu crescimento que seja automaticamente descartado. Não tem utilidade nenhuma. Jogue fora. Não ouça. Fuja, o mais rápido que conseguir.
Lembre-se de que você sempre foi lindo, capaz e correto, porque você é único. Não existe outro como você. Então, você é certo do jeito que é.
A comparação com outra pessoa não tem valor porque se trata de duas pessoas diferentes. Uma tem certos talentos, outra tem outros talentos. Uma tem um rosto de um jeito e outra tem diferente. Não existem dois iguais. A beleza reside nisso: a diferença.Você é certo do jeito que é.
Seja surdo, volte a ser você mesmo e ganhe a felicidade que você havia perdido quando era criança.
Maria de Fátima Hiss Olivares

Psicóloga Clínica

quinta-feira, 10 de maio de 2012

HUMILDADE


Humildade vem do Latim humus que significa terra.
O humilde, ao contrário do orgulhoso, tem os pés bem fincados na terra. Sabe seu tamanho, não tem a ilusão de ser maior ou menor. Sabe exatamente o seu valor.
Não tenta ser o que não é, nem se projetar sobre as outras pessoas. Junto com a humildade vem a honestidade e a passividade.
É honesto em dizer o que pensa e o que sente. Não precisa mentir, nem criar fantasias ao seu respeito. Não quer ser o super-homem, nem sábio, nem herói.  O humilde é sincero ao falar sobre suas fraquezas e limitações. E isto o traz mais perto ainda da terra, pois o torna mais humano. Talvez por isso a palavra humano derive também de humus.
Uma personalidade humilde assume sua vida, com as todas as suas responsabilidades, obrigações, deveres, erros e acertos sem resistência. Não espera uma saída mágica para os seus problemas, nem espera que os outros resolvam suas questões, ele deixa isso para o orgulhoso.
O humilde sabe que sua obrigação na terra é fazer germinar e crescer. Sabe de seus deveres e não foge á eles. Sabe que deve também servir, como a terra, de veículo para que outras pessoas possam brotar, ajudando-as na difícil tarefa de romperem a casca de suas sementes e mostrarem ao mundo quem são. É preciso ser terra e ser semente.
O humilde não precisa provar nada. Nem que está certo, nem que tem razão. Ele sabe e isso basta.
Hoje, em um mundo egoísta, o culto ao “EU” é uma doença. As pessoas hoje se consideram mais importantes que as outras e querem levar vantagens em todas as situações. Predomina a indiferença e se o outro vai ou não sofrer com isso, não importa. O é mais importante o que ela sente. Está com dor, ou sofrendo? O que importa o mundo? Vai expressar sua revolta nas pessoas que estão perto, e aqueles que mais ama são os que mais sofrem. Afinal, todos tem que sentir o que o egoísta sente. Ele se sente o centro do universo.
Com este pensamento centrado no “Eu”, não cabe a caridade. Falta a “humildecência”, a decência de ser humilde. Hoje não é hábito ceder o lugar a uma pessoa mais velha, ajudar alguém que você não conhece sem se preocupar com os méritos disso. Mas perde-se em grandiosidade, pois é na relação com o outro que crescemos. Ninguém cresce sozinho, ninguém cresce no lugar do outro, nós crescemos nos relacionando, entrando em contato com o outro. E doando-se a gente cresce ainda mais e melhor.
O mundo do orgulhoso é o mesmo do egoísta: o seu próprio umbigo.
O mundo do humilde é o universo todo.
O orgulhoso é escravo das opiniões alheias. Sua vida se baseia em o que os outros vão pensar dele. E se vão admirá-lo.
O humilde vive em liberdade, porque tem a consciência limpa. Não precisa da aprovação do outro, sabe que está agindo corretamente. E por isso tem calma e um coração em paz.
Maria de Fátima Hiss Olivares