segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Temperança

Temperança significa equilíbrio. Alguma coisa equilibrada não tende nem tanto para um lado nem para o outro. Como dizem os budistas, é “o caminho do meio”.

Da mesma raiz de temperança podemos achar a palavra tempero – outra coisa que se colocarmos demais estraga o paladar, estraga o sabor e se colocarmos de menos o gosto fica insosso. È interessante também notarmos que temperamento também deriva daí. Um temperamento forte, geralmente condiz com pessoas estouradas, raivosas e um temperamento fraco dizemos de pessoas frágeis, covardes.

O ideal seria então o temperamento equilibrado, com a dose certa de tempero.

Podemos achar a necessidade da temperança em tudo na vida, mas a primeira coisa que pensamos é a temperança à mesa. Existem os exagerados que devoram tudo o que veêm pela frente, são os glutões.

Pena, pois o fastio que sentem depois destrói qualquer prazer que o alimento havia proporcionado. O contrário seria uma pessoa que não come, não gosta de nada. A vida dela está sem graça e sem gosto, e ela corre o risco de se tornar anoréxica e ganhar uma das piores doenças da atualidade. O prazer está no meio termo, no equilíbrio, ou seja comer quando se tem fome,beber quando se tem sede, escolher muito bem o que vai ingerir e ter prazer, saborear cada pequeno bocado, prestando atenção à ação de comer.

Devemos usar a temperança também no falar. Quem fala muito se expõe desnecessariamente e torna-se alvo fácil de críticas. Vale relembrarmos velhos ditados: “Quem fala muito dá bom dia pra cavalo”, “Não é à toa que temos dois ouvidos e uma só boca”, “quem fala o que quer ouve o que não quer”. E do extremo oposto temos aqueles que falam pouco. Estes engolem muita coisa que deveria ter sido dita, geralmente reclamam que ninguém os entende (de que jeito irão entendê-lo, se ele não fala o que pensa e o que sente?), são muito propensos a doenças psicossomáticas por estarem constantemente remoendo pensamentos e sentimentos.

Ao lidar com dinheiro também vale usar a temperança. Tomem sempre cuidado com os extremos, gastar demais gera inúmeros problemas. Pense nas despesas desnecessárias feitas, as dívidas acumuladas, que vão aumentando cada dia mais e mais, tirando o sono e o sossego. Mas ser avarento também é prejudicial, pois a pessoa não se proporciona certos prazeres nem à sua familia. Têm condições financeiras boas e vivem como pobres, e esta discordância entre o que se tem e como se vive gera desequilibrio interno.

No amor, a temperança aparece nos relacionamentos equilibrados, saudáveis, normais. Parceiros demais, do tipo cada semana se relacionar com uma pessoa diferente é normal na adolescência, mas quando isso se arrasta pra vida adulta é bom tomar cuidado – descontrole à vista.

Aprender a viver com temperança é o caminho mais certeiro para uma vida mais equilibrada e feliz. Poderemos notar a necessidade dela em todas as áreas de nossa vida e a cada área onde conseguimos inseri-la, esta se torna mais forte. Você sabia que o vidro e o aço são temperados para adquirir maior resistência? Isso vale para nós também.

Escrito por Maria de Fátima Hiss Olivares
Psicóloga Clínica

Obrigado por ser meu inimigo

O título acima pode parecer estranho à primeira vista.Afinal, para que serve um inimigo além de nos aborrecer, irritar e fazer de nossa vida um inferno? Há momentos em que temos a certeza que esta pessoa só nasceu com o objetivo de nos atrapalhar, mas por incrível que pareça, ele tem uma serventia boa sim: serve para nos aprimorar.

Como?

Pense comigo, se sucumbirmos à vontade de fazer algum mal á ele, estaremos perdendo o controle sobre nossos sentimentos e emoções. Mas, se você conseguir o contrário, ou seja, resistir às provocações, conseguirá triunfar sobre sua raiva e gradativamente irá aumentando seu autocontrole. Viu? É para isso que o inimigo funciona. Ele nos instiga a crescermos. Se não temos oponentes, fica difícil superarmos a nós mesmos. Vamos continuar.

Tanto o inimigo quanto os fofoqueiros, funcionam como um termômetro moral de nossa sociedade. Muitas más ações são impedidas mediante o receio de comentários alheios. Ou seja, agimos corretamente para não “cairmos na boca do povo”. Não pensem que a fofoca e o “diz-que-me-diz” é exclusividade de cidades pequenas. Nas grandes cidades ocorre a mesma coisa, pois a vizinhança e o bairro formam pequenas comunidades, onde as pessoas se conhecem e portanto tomam conta da vida umas das outras. Até dentro das famílias existem olhos fofoqueiros que alcançam tudo.

Isto também não é ruim, pois passamos a prestar atenção am nossa conduta e fazemos tudo da melhor maneira possível, pois perante o inimigo, uma escorregadela sua é uma vitória para ele, e perante o fofoqueiro é assunto para mais de uma semana. Então, passamos a agir cada dia melhor, até sem perceber.

Os inimigos testam nossos limites. Com eles, conseguimos saber o quanto somos pacientes e tolerantes e temos que descobrir maneiras de expandir ou retrair este limite. Digo retrair, pois às vezes podemos ser tolerantes demais. Talvez por medo de enfrentar a situação, por covardia, por nos sentirmos fracos. O inimigo nos instiga a lutar. Muitas vezes a luta é necessária, e nos ensina a sermos fortes e não desistir.

Testam nosso poder de suportar as adversidades, nossa capacidade de argumentação e nossa inteligência. Assim, com a presença de um inimigo crescemos e amadurecemos cada vez mais.

E finalmente, com os inimigos aprendemos a exercitar a mais difícil de todas as nossas capacidades: a compaixão.

Ter compaixão por um inimigo é transcender a sua condição de humano e poder ajudá-lo a tornar-se um pouquinho mais próximo das grandes Luzes como Jesus, Buda, Francisco de Assis...

Escrito por Maria de Fátima Hiss Olivares
Psicóloga Clínica

Imperfeitamente Perfeitos

Somos bombardeados diariamente com modelos de perfeição: o modelo famoso, o galã da novela das oito, as roupas da moda, o carro do ano, o empresário rico, pessoas bem sucedidas esbanjando simpatia, etc... Vendo tudo isso, é fácil pensarmos que todos eles são perfeitos e nós os errados, os imperfeitos.

Além da cobrança interna pela perfeição, ainda temos a cobrança externa: é a mãe exigindo melhores notas ("só aceito nota 10"), é o chefe cobrando um desempenho sobre-humano, é a namorada que quer ir aos melhores restaurantes, sendo que o salário não dá para isso. Percebeu como funciona? Somos cobrados para ser o que não somos.

Nós somos seres humanos, imperfeitos, cheios de erros, ainda bem. Somos feitos de opostos que funcionam juntos o tempo todo formando o nosso equilíbrio. Somos bons e maus, preguiçosos e trabalhadores, amorosos e raivosos, corajosos e medrosos, tudo depende do momento. Pensem no conceito de sombra e luz. Todos temos um lado luz e um lado sombra. Como seria um quadro feito só de luz? Uma tela pintada de branco. E um quadro feito só de sombra? Uma tela pintada só de preto. O que faz um quadro ser lindo é a mistura de sombra e de luz.

Em todas as culturas vemos ensinamentos para aceitarmos estas dualidades que fazem parte da alma humana. O símbolo do yin/yang é uma destas representações. Aceitando estes princípios conseguiremos uma forma mais coerente de viver.

A busca pela perfeição faz com que o ser humano se distancie do que ele é de verdade, do seu verdadeiro eu, para buscar algo que não existe. Não aceita o que é. Como gasta muita energia buscando algo que é impossível de alcançar, está sempre insatisfeito.

Geralmente estas pessoas são muito rígidas consigo mesmas e com os que estão perto. São muito críticas. De que adianta? Perfeito só Deus. Quem busca a perfeição está querendo tomar o lugar de Deus.

Buscar melhorar-se a cada dia é uma busca saudável, enquanto buscar a perfeição pode levar a uma bela depressão ou a um transtorno do pânico.

Devemos nos aceitar incondicionalmente, somos perfeitamente imperfeitos.

Maria de Fátima Hiss Olivares
Psicóloga