Hoje, a exigência do
mundo é que sejamos felizes 24 horas por dia. Somos praticamente obrigados a
viver sorrindo, correndo de braços abertos em um campo verde coberto de
margaridas. Somos bombardeados por todos os lados por esta cultura da
“felicidade já”. Propagandas, novelas, palestras, livros, cursos, tudo dando
fórmulas rápidas e práticas de ser feliz.
Mas a realidade não
funciona desta maneira. E quando nos deparamos com os problemas cotidianos, as
frustrações, as dores e as tristezas naturais da vida, pensamos que estamos
errados, que não aprendemos direito as lições dos gurus da auto-ajuda, super
motivados, que repetem a palavras “ empoderamento” e “pró-ativo “a cada cinco
minutos. Enfim, a culpa é nossa por
estar vivendo a vida de verdade.
E na vida real, nós experimentamos
ciclos de várias emoções e sentimentos no mesmo dia. Isso é viver. A vida é
dinâmica, acontecendo coisas distintas o tempo todo, exigindo de nós todo tipo
de reações: Acordamos bem, e queimamos a língua com o café quente (ficamos com
raiva), fomos para o trabalho e ganhamos um fiu-fiu na rua (coramos de
vergonha). O chefe estava num dia péssimo(sentimos medo e apreensão ), na hora
do almoço sua amiga alugou seu ouvido para falar mal de alguém (acabou com sua
paciência, te irritando). Você recebeu um telefonema da sua sobrinha de 3
aninhos (e se encheu de ternura e amor). Voltou pra casa e descobriu um enorme
vazamento de água na cozinha que alagou tudo (ódio instantâneo).
Ser feliz é uma
construção pessoal, nunca uma obrigação. Ela tem o momento dela, assim como
todos os outros sentimentos.
É urgente nos
livrarmos desta obrigação (insana) de ser feliz o tempo todo. Não precisamos
esperar um momento extremo da vida, como a perda de um ente querido, para,
perceber a nossa fragilidade e a realidade que nos chama para sentir somente
dor naquele momento. E é só isso que você vai sentir: dor e tristeza. Por mais
livros de auto-ajuda que tenha lido, por mais palestras motivacionais que tenha
ido, por mais que tenha feito.
O medo de entrar em
contato com os sentimentos ruins é que faz com que tanta gente procure alívio
nesta cultura de felicidade imediata.
A vida é feita de
muitos sentimentos ruins, e isso é muito bom. Sentir tristeza ou melancolia é
nutritivo, te faz entrar em contato com seus sentimentos mais profundos. Te
leva a uma introjeção, ao passo que a alegria te joga para a extroversão. Somos
sombra e luz, simultaneamente.
Aceitar isso já dá
paz. E isso é o suficiente para o momento.