quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Brigas de casal




Sabe o que mais dói em uma briga? É o fato de sabermos que isso é normal e que mais cedo ou mais tarde, vai acontecer de novo.
Tenho medo de um casal que não briga.
É através destes reveses que vamos nos moldando, mudando, tomando uma forma mais adequada. Como uma forja. Somos a espada crua, que o ferreiro vai encher de dores para adquirirmos o formato adequado. Somos crus á principio. Somos crianças. Muitas vezes mimadas, querendo que o mundo seja do jeito que achamos que ele deve ser. E as brigas nos obriga a ver o outro, a tentar entender este ser diferente que está diante de nós e que agora reparte o mesmo quarto. As brigas também nos obriga a sair da nossa posição, muitas vezes muito confortável, e nos convida a pensar que talvez estejamos errados. Putz, será?
Sim, e muitas vezes, estamos mesmo precisando de uns ajustes. Mas é o olho do outro quem nos indica isso, pois nós mesmos muitas vezes não somos capazes de enxergar. Mimaaaaaaados.
Mas, você pode pensar que sou á favor de barracos e quebra-paus. Não sou não – sou da paz. Já vou esclarecer isso: as brigas são benéficas dependendo da sua profundidade.
Como?
Vamos imaginar um copo de cristal bem bonito. Este é o seu casamento, ou a sua relação amorosa. Pois bem, conforme o tempo vai passando e vocês vão convivendo, atritos vão acontecendo e a superfície deste copo, antes translucida e limpa, vai adquirindo arranhões, rabiscos e ficando opaco. Mas ainda é um copo. São aqueles casamentos fortes e eternos. São aqueles velhinhos que ja estão casados a tanto tempo e trocam olhares de cumplicidade, andam de mãos dadas e que a vida já ensinou tanto, que o amor já ficou manso.
Este casal teve brigas, obvio. Mas foram as brigas edificantes.
A forja que molda uma relação não pode entrar na ofensa, agressões de qualquer tipo,  nem ultrapassar o limite do outro. Este tipo de brigas deixam marcas profundas que não rabiscam o copo, eles criam pequenas rachaduras, no começo são quase imperceptíveis. Mas elas vão aumentando em numero e profundidade, porque o casal não sabe brigar e vai repetir isso cada vez com mais e mais intensidade.  Ao invés de crescer, se machucam.
Até que um dia, este copo se parte, em mil pedacinhos.
Quem está de fora fala: mas como deixou de gostar assim, de uma hora pra outra?
Não. Foram anos de pequenas rachaduras, que foi acabando com o amor.
Não dá pra colar caquinhos. Como você faz para uma pessoa voltar a te amar, depois de tanto tempo destruindo o que ela sentia por você?
Ok, quer tentar? Quer colar os caquinhos?
O copo sempre vai ser quebrado, e muito frágil. E as rachaduras estarão sempre lá, para lembra-los de cada momento que as provocou, e a qualquer momento pode desmoronar tudo de novo.
Muito trabalho. É isso o que espera quem não fez a coisa certa desde o começo.
Um relacionamento requer muito cuidado. Todo amor é frágil. Não se iluda achando que ele é á prova de balas, porque não é não.
Todo cuidado é pouco.

Uma relação demanda tempo, atenção e muito zelo. Deve ser tratado como o mais frágil dos bibelôs. E este paradoxo é que torna a coisa toda linda: é nesta fragilidade que nos fortalecemos como pessoas, e crescemos junto com o outro.
Vamos tomar juízo e brigar do jeito certo?

Escrito por: Maria de Fátima Hiss Olivares - Psicóloga Clínica

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