quinta-feira, 5 de janeiro de 2017









PEQUENAS RACHADURAS





Mesmo naqueles casos onde pode-se argumentar que foi uma total surpresa, como por exemplo, a descoberta de uma traição ou uma briga feia que começou por motivo banal, existiu uma motivação anterior que já estava em andamento a tempos.
            A relação vai se desfazendo gradativamente, de forma lenta e imperceptível. É preciso estar muito atento á relação para perceber quando estas pequenas rachaduras tem início, e assim interrompê-las.
            Quando “deixamos pra lá”, desconsideramos ou não damos valor a estas rachaduras, elas se tornam os pontos fracos da relação. Mais tarde, em uma crise conjugal, a relação se romperá justamente nestes pontos fracos. Como uma parede, que com o tempo formou pequenos trincos. Com um impacto mais forte, são nestes pontos que ocorrerá a quebra.
            A rotina é a pior conselheira que existe. Embalados por ela, o casal tende a pensar que é tudo normal:

“A gente já se habituou a brigar assim”,
“Ele(a) é assim mesmo, já acostumei”
“É só uma briga corriqueira”,
“Ela está assim, de cara virada, mas daqui a pouco passa”,
“Ah, todo casamento é assim mesmo. Quem não se magoa?”.
“ Eu sei que estamos discutindo mais que o normal, mas isso é comum depois de tanto tempo juntos”,

Pare e pense: quantas pistas de que a relação estava desmanchando você não viu ou não quis ver?
Estas rachaduras representam os pontos onde o casal deve discutir e entrar em um acordo. É o início do distanciamento, que pode também ser a oportunidade de cura do casal. Fortalecendo a relação no momento certo em que as rachaduras se iniciam, formam uma relação forte, consistente.
No Japão existem uma técnica muito interessante chamada Kintsugi ("emenda de ouro") ou Kintsukuroi ("reparo com ouro"). Conta a lenda que no final do século XV um Xogum enviou seus potes de chá para serem consertados e recebeu-os todos amarrados com grampos de metal, o que tirou toda a beleza e utilidade dos utensílios. Irado, pediu que sábios artesãos desenvolvessem uma forma diferente de reparar sua louça. Eles então, preencheram as rachaduras das cerâmicas com ouro, criando um efeito visual maravilhoso. As rachaduras tornaram os potes mais belos e puderam ser novamente utilizados.
Hoje esta técnica tornou-se uma forma de arte muito valorizada em todo o mundo.
Nossa relação amorosa, igual aos potes, pode receber esta ajuda, e as suas rachaduras serem curadas com ouro. E a cada vez que você olhar para ela, verá que:
Aquilo que era a fragilidade do casal, tornou-se uma recordação bonita.
O ouro está ali para te lembrar que toda relação tem pontos fracos,
e quais são eles.
Toda relação pode formar rachaduras, mas que, quando consertadas a tempo, tornam a relação mais forte e bela.
Promova um olhar mais atento á estas rachaduras. Na medida do possível, trabalhe a transformação. Quais são as atitudes que formam estas rachaduras? O que fazer para impedir estragos maiores? O que fazer quando a relação já está toda trincada?
Mas, com pesar, veremos que algumas vezes, não deu tempo de consertar, e o pote foi esmigalhado. Quebrou em tantos cacos miúdos que não existe mais chance de reparo. Quando isto ocorre, vamos entender como deixar esta relação ir embora, cuidar de suas feridas e iniciar uma nova jornada.
Então, sabendo que isso pode acontecer, vamos nos ater a impedir que as rachaduras aumentem de tamanho, cuidando delas, abrindo os olhos para enxergá-las assim que começam a se formar.
Temos muito trabalho pela frente, então, coloque toda forma de vaidade e orgulho em uma sacola e deixe longe de você. Eles podem te impedir de perceber as mudanças que são necessárias fazer, e podem também, nublar a sua visão para a sua parte de culpa nos problemas do casal e jogá-los todos sobre os ombros dos outros.
Abra seu coração, arme-se de compreensão e paciência e vamos juntar estes caquinhos.
 Maria de Fátima Hiss Olivares - Psicóloga Clínica




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