domingo, 16 de janeiro de 2011

Ciúme

”Os ciumentos sempre olham tudo com óculos de aumento, os quais engrandecem as coisas pequenas, agigantam os anões e fazem com que as suspeitas pareçam verdades.” - Cervantes

Ciúme é uma emoção humana comum. Em histórias românticas o ciúme é o tempero que torna as tramas mais interessantes de serem lidas. Para William Shakespeare o ciúme é um “monstro de olhos verdes”, para outras pessoas é um sentimento que indica o quanto o outro o ama e pode ser consideradado prova de amor.


Sendo a monogamia norma social, o ciúme é aceito por ser considerado como forma de proteger a família e zelar pela moral. No século XIV era relacionado à paixão e devoção à pessoa amada, com os ideais românticos da época.


É um sentimento triste, que Sócrates chamou de “dor da alma”. Segundo o dicionário Aurélio; “ciúme sm. 1. sentimento doloroso causado pela suspeita de infidelidade da pessoa amada; zelos. 2. Angústia provocada por sentimento exacerbado de posse.” Estamos até aqui falando de um conceito de ciúme dentro da normalidade, o problema é quando o ciúme ganha formas patológicas. No ciúme normal é passageiro, baseado em fatos reais e sem prejuízos tanto para a pessoa que sente o ciúme quanto para o seu parceiro. Quando o ciúme se transforma em “doença” aparecem vários sentimentos desproporcionais ligados ao medo da perda do outro. Para esta pessoa a linha que divide a realidade da fantasia é muito tênue e está a um passo do delírio.


Há uma relação clara entre o ciúme patológico e a auto-estima rebaixada. Nota-se que estas pessoas são extremamente sensíveis, carentes e usam seu comportamento agressivo como forma de defesa. É um comportamento que traz muito sofrimento tanto para o ciumento quanto para o seu companheiro, além de culpa e vergonha, mas o ciumento não consegue se controlar. Quando sente o ímpeto do ciúme, isto se torna maior que sua vontade e ele cobra, reage, age, magoa e se machuca. Desconfiança desmedida pela fidelidade do outro. Compulsão à verificação - bolsos, celular, contas. Inquisição constante: companheiro tem que fornecer um relatório completo do seu dia, passo a passo. Segue o companheiro ou pede para alguém seguir. Pergunta sobre o comportamento do companheiro aos colegas dele ou familiares. Abre correspondências do outro, ouve telefonemas e abre e-mails. Preocupação excessiva com os relacionamentos do passado (ex-namorada, ex-esposa). Por mais que o companheiro se explique esta explicação nunca é suficiente. Não traz paz, e sim aumenta ainda mais as dúvidas. Realizam visitas e telefonemas surpresa no local de trabalho ou onde o companheiro se encontra. Necessidade e grande desejo de ter o controle total sobre os sentimentos e a vida do companheiro. Medo desproporcional de perder o amado para outra pessoa. Sentimentos presentes: medo, raiva, culpa, humilhação, vergonha, ansiedade. Tem mais medo de perder o outro para um rival do que perdê-lo para a morte. Seu medo de perder o outro ocasiona a perda do outro, pois este não agüenta e sai do relacionamento. Tanto o ciumento quanto o cônjuge deveriam procurar acompanhamento psicológico ou a participação em grupos de ajuda, pois sozinhos acaba sendo difícil conviver com este problema.
Maria de Fátima Hiss Olivares
Psicóloga Clínica



2 comentários:

Fernanda Coelho disse...

Minha mãe sempre me disse que ciúme demais é atestado de burrice...

Carla disse...

Adorei o texto e a citação do começo, vou colocar no meu facebook!
E as fotos, conseguiu salvar?
Beijoo!