sexta-feira, 22 de abril de 2011

“Quero ver suas cicatrizes e não as feridas abertas”



A dor como forma de crescimento todos já conhecem, afinal parece que este é o único meio pelo qual o ser humano aprende alguma coisa: sofrendo.


O sofrimento na verdade é uma ponte que liga duas etapas de uma vida: de um lado temos a nossa vida como ela é hoje e na outra margem, a vida que teremos depois de termos sofrido. Deste lado estará o amadurecimento, o esclarecimento e a paciência. Virtudes que adquirimos quando nos expomos ao fogo do sofrimento. O fogo purifica, depura, modifica. Ninguém sai ileso, mas cresce. O conhecimento adquirido nunca mais será esquecido. A paciência chega para esperar o ciclo do sofrimento terminar.


Sofrendo nos aproximamos da humildade, pois recuamos da nossa posição superior para pedirmos ajuda e os nossos olhos se abrem para a nossa pequenez. Nos tornamos sabedores da nossa carência e da nossa solidão.


Olhando para a nossa solidão, vemos o outro que também está em sofrimento; e a constatação de que não sofremos sozinhos nos torna um com o mundo. Aprendemos então a compartilhar.


Sofrer também nos ensina a perdoar. Principalmente a nós mesmos. Pois a culpa é a manutenção do papel de coitado. Quem não se perdoa é orgulhoso, não consegue se curvar ao fato de ser só um ser humano, e como tal, errar muitas e muitas vezes. É fato: basta ser humano para cometer falhas. Mas o orgulhoso acha-se diferente, não humano, então vendo-se superior aos outros, não aceita errar.


Mas o erro gera o sofrimento que gera o crescimento. Este é o ciclo natural da vida.

Aceitar a dor é transcender a dor. Quem luta contra o sofrimento não ouve o que ele tem a ensinar. Acaba estacionado no tempo, fazendo a manutenção da sua posição de vítima, enquanto a meta é o avançar. Não lutar, e sim aprender com ele.


O verdadeiro herói é aquele que supera a si mesmo. E o herói não tem espaço para o “coitadismo”. Enfrenta, luta, transpira e não desiste. Quem se vê na posição de coitado é covarde, desistiu por preguiça de tentar mais uma vez.


Devemos ter cuidado quando nos achamos coitados. Muitas vezes é para ganhar o afeto do outro. Saia desta posição já !


Os homens e mulheres mais impressionantes são aqueles que mostram as cicatrizes e não expõem as feridas abertas, pois estas ainda não geraram o aprendizado que a dor traz. As cicatrizes mostram o caminho que já foi trilhado, os degraus que já foram galgados e as pontes que já foram atravessadas, fazendo-os cada vez mais fortes para superarem os próximos sofrimentos, pois estes com certeza virão, pois a evolução nunca termina.

Para ilustrar este tema, vamos recorrer a uma historinha:

"Havia certa vez um rei muito bondoso que já se encontrava no fim de sua vida.

Certo dia pressentindo a chegada da morte chamou seu único filho , tirou do dedo um anel e disse:
- Meu filho, quando for rei leva sempre contigo este anel. Nele há uma inscrição, quando estiveres vivendo situações extremas, de glória ou de dor, tira e lê o que há nele”.
O rei morreu e o seu filho passou a reinar em seu lugar sempre usando o anel que o pai deixara. Passado algum tempo surgiram conflitos com um reino vizinho que acabaram culminando numa terrível guerra.
O jovem rei, a frente de seu exército, partiu para enfrentar o inimigo.
No auge da batalha seus companheiros lutavam bravamente, mortos, feridos, tristeza, dor.
O rei lembra-se do anel, tira-o e lê a inscrição: "Isso vai passar!"
E ele continuou a luta, perdeu algumas batalhas, vence outras, mas ao final saiu vitorioso.
Retorna então ao seu reino e coberto de glória entra em triunfo na cidade. O povo o aclama.
Fazem dele um grande herói.
Neste momento ele se lembra de seu velho e sábio pai, tira o anel e lê: "Isso vai passar!"

Tanto o sofrimento quanto as alegrias passam. O que fica é o que aprendemos com eles.

Maria de Fátima Hiss Olivares - Psicóloga Clínica

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