quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Santa Simplicidade


Santa Simplicidade


Acordar com o despertador do celular e apertar a tecla soneca para mais cinco minutos. Levantar, café da manhã speed, com café instantâneo feito no microondas. Trânsito maluco, celular, chegada ao escritório, verificar e-mails, celular o dia todo. Depois do expediente fazer uma hora de cooper, lógico que com o MP3 ou com o IPod última geração e o tênis? O amortecedor de alta tecnologia e com contador de passos, senão não dá pra correr. No final de semana, ir para o MBA já que não tem PHD, pesquisar na wikipedia, anotar tudo no notebook (como viver sem ele?).
Até muito pouco tempo atrás as pessoas, pasmem, viviam sem o celular. E ninguém morria por isso. Hoje se tornou artigo de primeiríssima necessidade. Insubstituível. Com o computador, microondas e todos os adereços modernosos da atualidade, acontecia a mesma coisa. Não havia o hábito nem a necessidade.
Nós precisamos de muito pouca coisa para viver. Mas “achamos” que precisamos de muito. Por exemplo, antigamente os guarda-roupas eram pequenos, duas portas, os mais chiques tinham quatro, acompanhados de uma cômoda e pronto, estava composto todo espaço que uma pessoa necessitava para guardar suas roupas e sapatos. E era mais que suficiente. Hoje, precisamos de tanta roupa que existem os quartos de se vestir ou closets, caso a casa não o tenha, os guarda-roupas devem ser, no mínimo, gigantes. Precisamos de roupas diferentes para cada humor e moda.
O mercado sabe bem disso, e para inserir um novo produto no mercado, é só criar uma nova necessidade. Bem ao estilo: você não pode viver sem ter isso. E o ser humano, vulnerável como ele só, cai direitinho.
Observe e veja a quantidade e variedade de novas necessidades que surgem todos os dias.Quando lançaram o tomate seco, ninguém nunca tinha ouvido falar nisso. Hoje as pizzas só tem graça se ele estiver lá. E a picanha? Hoje não existe churrasco sem ela. E o catupiry, os refrigerantes light, internet, microondas, televisão no quarto, telefone sem fio, youtube, orkut, tv a cabo, controle remoto,... Santo Deus, só de pensar dá desespero: será que o dia não precisaria ter 40 horas para darmos conta de tanta coisa necessária?
Como as pessoas antigamente viviam sem tudo isso?
A resposta é : eles VIVIAM, e muito bem. Sabiam o prazer de andar com calma, escutar um “causo”, contar uma “lorota”, tomando café com o vizinho. No final de semana, havia a roupa bonita de sair, passada com esmero, e que voltava para o guarda-roupa para ser usada várias e várias vezes. As crianças brincavam no chão, e saudavelmente se sujavam. Hoje a brincadeira se resume aos games eletrônicos e aos espaços infantis dos shoppings centers. Vemos com freqüência crianças trancadas dias nos apartamentos tendo como companhia os videogames e computadores. Depois os pais não sabem porque os filhos estão tão irritados, nervosos e brigões. As crianças riam, gargalhavam, subiam em árvores (os adultos também).
Não sou contra a tecnologia, longe disso. Mas é preciso nos depararmos com o exagero da atualidade. São tantas coisas supérfluas que tomam conta de nosso dia a dia, que mal sobra tempo para o essencial. Aqui está o erro. Valores mais verdadeiros estão sendo substituídos por outros superficiais, e nossos filhos desde cedo estão lidando com essa inversão de valores. Quer um exemplo? Qual é o comentário que se faz quando uma pessoa atende um celular daqueles antigos e grandões? No mínimo quem está perto torce o nariz, não é? Já imaginou o seu filho adolescente atendendo um aparelho “jurássico” desses dentro do colégio?
Concluímos que além de termos necessidades novas, temos também a obrigação de modernizá-las, tornando-nos escravos de algo que não tem fim, pois a cada dia é lançado um sem número de novos produtos, cada vez mais modernos.
Mas...tudo isso é realmente essencial?
Quando for adquirir uma coisa nova, pergunte-se: isso é essencial ou supérfluo? Com certeza você irá desistir da compra.
Este assunto está incomodando muita gente já há um bom tempo, e existem vários movimentos espalhados pelo planeta pregando o retorno da simplicidade e de um modo de vida mais saudável. Você pode fazer parte desse movimento simplificando a sua própria vida. Não acha que é capaz?
Tente. O ser humano é simples, muito simples, e precisa de muito pouca coisa pra viver.

Maria de Fátima Hiss Olivares - Psicóloga

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